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  Claques


  Claques

  As claques, como grupos organizados de adeptos, são, como diria o Mister Jaime Pacheco, uma autêntica “faca de dois legumes”.
  Se por um lado se verifica que o seu apoio à equipa no estádio é essencial, uma outra vertente existe que torna este fenómeno quase desprezível.
  Concordo plenamente com a existência de claques nos nossos estádios. Contudo, temos também que nos lembrar de toda a envolvência menos romântica, logo mais tenebrosa, que acompanha este fenómeno.
  Na minha adolescência, também eu me integrei numa claque. Esse fenómeno cresceu exponencialmente, impulsionado por uma série de boas épocas por parte da nossa equipa, que por força dos bons resultados alcançados, conseguiu atrair uma vasta legião de adeptos mais jovens. Nessa altura, vivia-se um ambiente de particular intensidade em torno do clube, facto que só propiciou, na altura, o crescimento na nossa claque até ao ponto de rivalizarem com as maiores e mais tradicionais claques do país.
  Apesar de toda a envolvência mais romântica, o que é facto é que se iam sucedendo as situações de tensão, muitas vezes extrapoladas por aquela meia dúzia de sociopatas que sempre existem nesses meios.
  Uma claque pode ser um óptimo veículo de apoio para uma equipa de futebol, emprestando ao espectáculo a sua cor, os seus cânticos e a emoção a eles associada. No entanto, pode também ser um fenómeno que sirva para encobrir outras actividades menos lícitas por parte não dos seus membros, mas dos seus dirigentes, e não só no que a violência diz respeito.

  Em jeito de final de comentário, confesso que sou um partidário da legalização das claques de futebol. Por não querer deixar de as ver nos estádios para sempre, defendo essa opção como a única maneira possível de controlar as acções de certos elementos e responsabilizá-los pelas atitudes muitas vezes menos dignas, diria mesmo que anti-sociais.
  Com a legalização, seria possível saber ao certo quantos elementos tem cada organismo, de que forma está organizada a sua direcção, quais as suas fontes de receita e quais as suas despesas. Seria também possível organizar melhor as deslocações, conferindo maior segurança aos adeptos que acompanham a equipa nos jogos fora de casa. Além do mais, seria uma óptima maneira de impôr algum respeito aos tais sociopatas que falei antes. Legalizando-se a calque, tenho a certeza absoluta que a sua direcção se quereria demarcar ao máximo do comportamento de certos indivíduos. Seria mais fácil identificá-los e responsabilizar essas pessoas pelos seus actos. Por fim, serviria esta medida também para fiscalizar toda a gestão da claque como empresa que é ou pode vir a ser. Legalizando-se um organismo destes seria possível controlar possíveis fraudes, branqueamentos de capitais e apropriações indevidas de fundos da claque por parte dos seus dirigentes. Estou certo que muitos serão os que duvidam da existência destes problemas e mais serão aqueles que os tentarão negar com veemência, mas o que é facto é que eles existem e acontecem bem em frente aos nossos olhos. Não há volta a dar-lhe.
  Em suma, a legalização só viria ajudar a lavar a imagem das claques, fazendo com que os que dela fizessem parte só estivessem lá por dedicação e não por qualquer interesse de índole económica. Traria credibilidade ao fenómeno, quanto mais não seja pelo facto de haver um grupo de responsáveis que teria que zelar pelo cumprimento das normas. Acredito também que esta medida traria vantagens às claques, no que diz respeito ao relacionamento com os próprios clubes, nomeadamente na obtenção de apoios.
  Resta dizer que, na minha humilde e honesta opinião, aqueles que se manifestam contra a legalização deste fenómeno serão aqueles que defendem a continuação da obscuridade em deferimento da transparência, os que pretendem continuar a camuflar as suas acções menos inocentes desculpando-se com o argumento freudiano do comportamento das massas, os que querem continuar a lucrar indevidamente com a boa fé e o entusiasmo dos outros. Neste caso, quem não tem “rabos de palha” não terá nada a temer.

  Quem não deve não teme, meus amigos…

  PS: Dois pequenos apartes, se me permitem.

  Está na altura de alguém controlar o acesso ás claques de crianças e jovens na puberdade. Além de não transmitir uma imagem idónea das claques, também constitui um perigo imenso para esses “petizes”, que não percebem nem imaginam as proporções que um qualquer problema pode ter no seio de uma claque, isto já para não falar dos escusados episódios de “Bullying” que se sucedem no interior da própria claque.
  O outro “pequeno aparte” é dirigido aqueles elementos das claques que passam o jogo de costas voltadas para o relvado… é tal a dedicação á claque que se esquecem do elemento principal do futebol, que é o desafio em si. A esses, aconselho uma revisão das suas prioridades, visto que preferem olhar para as bancadas do que ver o seu clube a marcar golos, dando a entender ao resto dos espectadores que os seus interesses poderão estar relacionados com tudo menos o futebol em si…